sábado, 11 de setembro de 2010

Conjugação verbal: O verbo "vir" e derivados

PROF. PASQUALE CIRPO NETO



Você diria

"A polícia interviu" ou
"A polícia interveio"?

O forma correta é "A polícia interveio". O verbo "intervir" deriva do verbo "vir". No presente do indicativo a conjugação do verbo "vir" é:

Eu venho
Tu vens
Ele vem...

Como o verbo "intervir" é derivado, sua conjugação é feita a partir do verbo "vir".

Eu intervenho
Tu intervéns
Ele intervém...

O gramático e professor Napoleão Mendes de Almeida reforça a tese afirmando: "A conjugação dos verbos compostos deve seguir a conjugação dos verbos simples". Esse é o caso do verbo "deter", que procede de "ter". A pessoa não deve dizer "Ele "deteu", mas "ele deteve"

Assim, deve-se dizer:

"Se a polícia intervier" (como "vier"), e não "se a polícia intervir".
"Eu só comprarei se o preço convier", e não "se o preço "convir".
"Eu comprei porque o preço conveio", e não "porque o preço "conviu".

Para conjugar verbos como "intervir", "convir", "provir", etc., devemos nos basear sempre no verbo "vir". Ele é a base de toda a família.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Conjugação verbal: O verbo "ter" e derivados

PROF. PASQUALE CIRPO NETO



É difícil alguém errar a conjugação do verbo "ter", tanto no presente, no passado ou no futuro. Mas, quando se trata de conjugar os verbos derivados de "ter", os verbos compostos, já não há tanta facilidade. Na rua as pessoas comprovam isso. Foi proposta a seguinte questão:
Quais as formas corretas?

"Se a máquina reter o cartão" ou...
" Se a máquina retiver o cartão"?

A maioria errou. A resposta correta seria

"Se a máquina retiver o cartão".

O verbo "reter" é um dos tantos filhos da família do verbo "ter": "deter", "reter", "entreter", "obter", "conter", "abster" etc.
Logo:

eu tenho
eu retenho
eu mantenho
eu detenho
eu obtenho
eu contenho

No futuro do subjuntivo é a mesma coisa: "Quando eu tiver", "Se o goleiro tiver sorte". E não "Quando eu "ter" ", "Se o goleiro "ter" sorte." Assim,

Se a máquina retiver o cartão
Se você mantiver a calma
Se a mãe entretiver a criança
Se os deputados se abstiverem de votar

Para a conjugação dos verbos derivados do verbo "ter" o raciocínio é simples. Apóie-se no verbo "ter", na primeira pessoa do singular do presente do indicativo: Eu tenho.

Eu detenho, eu mantenho etc...

Depois é só seguir essa linha de conjugação.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Conjugação Verbal: Grafia dos verbos "querer" e "por"

PROF. PASQUALE CIRPO NETO



Eu pus a carta no correio.
A ferida não cicatrizou e ainda tem pus.

Como escrevemos o "pus" do verbo pôr e o "pus" relativo a ferida?

Fizemos essas perguntas às pessoas na rua. A maioria acertou. O "pus" da ferida é com "s; o"pus" do verbo, também.


Não existe "pus" com "z", seja verbo seja substantivo. Para esses casos deve-se esquecer a letra "s".

Pus, puser, puseram, pusesse

Todas essas palavras são com "s".

Quis, quiser, quisesse, quiseram, quisemos
depuseram, propuseram, impuseram, repuseram, sobrepuseram, decompuseram

Todas as formas dos verbos "querer", "pôr" e derivados devem ser grafados também com "s".

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Aspecto Verbal: tempo presente e tempo futuro

PROF. PASQUALE CIRPO NETO



Quando uma pessoa diz "Tomo banho todos os dias", será que naquele exato momento ela está tomando banho? Não. O verbo está no presente, mas sua função é indicar um fato que se repete, um presente habitual.

Numa aula de história o professor fala: "Então, nesse dia, Napoleão invade ..."
A forma verbal "invade", que é presente, não indica que naquele momento Napoleão está invadindo algum lugar. Na frase, o tempo presente do verbo "invadir" faz remissão a um fato que ocorreu no passado e traz esse passado mais para perto.

Concluímos, então, que os tempos verbais têm outros valores além dos específicos.

Tomemos o futuro do presente como ele aparece nos "Dez mandamentos" bíblicos:

Amarás a Deus sobre todas as coisas
Não tomarás seu santo nome em vão
Guardarás os domingos e feriados
Honrarás pai e mãe
Não matarás
Não pecarás contra a castidade
Não furtarás ....

"Não furtarás", ao pé da letra, significaria que é proibido furtar no futuro, apenas no futuro, o que abre a possibilidade de entender que o ato é perfeitamente aceitável no presente. Mas, na verdade, "não furtarás", que é futuro, tem nesse caso o valor de imperativo e, como tal, indica que é proibido furtar em qualquer tempo.

Ao analisar um tempo verbal não se esqueça de considerar que ele pode indicar seu valor específico ou um valor paralelo (aspecto verbal), ou seja, um valor decorrente de seu uso no idioma.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Substantivos abstratos: Ciúme, Saúdade

PROF. PASQUALE CIRPO NETO



Todo mundo um dia estudou a diferença entre substantivos concretos e substantivos abstratos, embora nem sempre essa diferença tenha ficado clara.

Um apelo que deve ser feito de modo genérico aos professores de português: evitem ensinar aos alunos que substantivo concreto é aquele "que se pode pegar" e que substantivo abstrato é aquele "que não se pode pegar". Isso não é de nenhum modo preciso.

Substantivos concretos designam os seres de existência independente, reais ou imaginários. Os substantivos abstratos são aqueles que dão nome a estados, qualidades, sentimentos ou ações. O ato de quebrar é "quebra". O ato de participar é "participação". O ato de vender é "venda", e assim por diante. Todos esses substantivos são abstratos. Como diz Gilberto Gil na música "Rebento":

Rebento, substantivo abstrato....

Por que abstrato? Porque "rebento" é o ato de rebentar. Nomes de sentimento, como "amor", de estado, como "gravidez", e de qualidade, como "inteligência", também são substantivos abstratos.

Existe uma polêmica quanto ao plural dos substantivos abstratos: existe o plural dessas palavras?

Cada caso é um caso. Você faria o plural de "raiva", por exemplo? Ou de "inveja"? São palavras que soam esquisitas no plural, mas isso não estabelece uma regra. Vejamos um exemplo com a palavra "ciúme". Observe a letra da canção "Olhos nos olhos", gravada por Maria Bethânia:

...Quando você me deixou,
meu bem,
me disse pra eu ser feliz
e passar bem.
Quis morrer de ciúme,
quase enlouqueci
mas depois, como era
de costume, obedeci...

Você notou, a certa altura, o verso "quis morrer de ciúme". Muitas pessoas dizem "ciúmes". Não há nada errado com essa forma, mas é preciso escolher: dizemos ou "o ciúme" ou "os ciúmes". Nunca "o ciúmes". Na verdade, a forma singular - "o ciúme" - é preferencial, já que em tese o substantivo abstrato não se pluraliza, ao menos na maioria dos casos. Vejamos outro caso, agora tomando como exemplo a canção "Você pra mim", gravada por Fernanda Abreu:

Às vezes passo dias inteiros
imaginando e pensando em você
e eu fico com tantas saudades
que até parece que eu posso morrer.
Pode acreditar em mim.
Você me olha, eu digo sim
...

A exemplo do que acontece com "ciúme", não são poucas as pessoas que dizem "estou com uma saudades de você". Ora, é necessário sempre fazer concordar o substantivo com seu determinante. Se o substantivo vai para o plural, o pronome ou o artigo devem ir também.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Uniformidade de tratamento: Os pronomes "te" e "lhe"

PROF. PASQUALE CIRPO NETO



Na linguagem do dia-a-dia é muito comum o uso de pronomes de pessoas diferentes.

Você fez o que eu te pedi?

Na linguagem formal isso não seria posssível."Você" é 3ª pessoa, "te" é 2ª pessoa. O correto seria dizer:

Você fez o que eu lhe pedi?

Às vezes o exagero é maior. Veja o exemplo no nome da música "Eu te amo você", de Kiko Zambianchi.

São dois os problemas nesse título: a mescla de "te", que é pessoa, e de "você", que é pessoa. Ocorre também uma repetição desnecessária de pronomes: "Eu te amo você".

É perfeitamente possível dizer "Eu te amo a ti", já que os pronomes estão na mesma pessoa. No dia-a-dia ouve-se também "Eu te disse pra você". O correto seria "Eu te disse a ti". Mas é uma forma inadequada para o padrão informal. Ficaria melhor numa linguagem mais formal.